Obras de abertura do túnel da Lagoinha no ano de 1968.
Fonte: APCBH/ASCOM

    
     Muitos dos que passam diariamente pelo túnel da Lagoinha não imaginam que a boca do túnel correspondente ao bairro abrigava nas primeiras décadas da capital uma extensa horta, compreendida nos terrenos da chácara do Tortolla, de propriedade do Sr. Ângelo. A sua produção destinava-se ao abastecimento dos bairros da Lagoinha e Bonfim, entre outros bairros e o próprio bairro comercial, então ocupado por dezenas de casas residenciais, demolidas a partir de 1930.

    A abertura do túnel figurava como uma das principais obras da primeira gestão de Octacílio Negrão de Lima (1935-1938) e proporcionaria mais uma opção viária para a região do Matadouro e o norte do município. Porém, com o término da gestão em 1938 as obras de abertura foram abandonadas por trinta anos, até a gestão de Sousa Lima que optou por concluir a obra, para dar vazão ao caótico transito da metrópole mineira, ao mesmo tempo em que se iniciava a abertura da Avenida Cristiano Machado a partir da canalização de um dos braços do córrego da Mata.

   Inaugurado na segunda gestão de Oswaldo Pieruccetti o túnel comportava o trafego dos dois sentidos da via, sendo necessária a abertura de mais um túnel na década seguinte, ao mesmo tempo em que era demolida uma parte considerável do bairro da Lagoinha para a construção do questionável complexo viário.


A obra vista desde a boca do túnel. Ao fundo o prédio do café Brasil na Lagoinha, já demolido.
Fonte: APCBH/ASCOM

Inauguração do túnel na gestão Pieruccetti.
Fonte: APCBH/ASCOM


    Daí pode-se concluir que a região desde sempre figura como um verdadeiro canteiro de obras, onde a construção, ampliação e demolição são ininterruptas, segregadoras e na grande maioria das vezes desnecessárias. E mais uma vez a destruição está no horizonte da região, com a famigerada Operação Urbana Consorciada (OUC) Antônio Carlos/Pedro I, cujos debates calorosos, muitas vezes unilaterais e mal educados tenho tido a oportunidade de acompanhar. O resultado dessa grande lavagem cerebral infelizmente eu já sei e torço para que a população compreenda o que está por vir e as intenções de quem supostamente os representa, naturalmente embebidos de um plano político que coloca mais uma vez o bairro a mercê da destruição.
E pensar que tudo começou com um túnel há quase oitenta anos...

Os túneis e parte do famigerado complexo na década de 1980.
Fonte: Acervo EM

Um dos mapas da OUC, recomendo baixar os arquivos e ler com atenção a proposta. Disponível no link OUC PBH

* Tem algumas histórias interessantes sobre a região, no que diz respeito ao saneamento e ao desenvolvimento urbano que estará no livro Rios Invisíveis da Metrópole Mineira, cujo link para compra estará disponível nos próximos dias.

** Sobre a Lagoinha, recomendo a leitura do artigo "A metamorfose de uma paisagem: a construção, o apogeu e o processo de descaracterização do bairro Lagoinha" de autoria da arquiteta e urbanista Brenda Melo Bernardes e de minha autoria, publicado na Revista do Arquivo Público da Cidade de Belo Horizonte no ano de 2013.

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Rios Invisíveis da Metrópole Mineira

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